O assunto "Vício de Linguagem" - assim como suas interpretações na prática - parece não ter fim; se se considerar o fato de o Escritor/Escritora ter de prestar atenção redobrada, aí não terá mesmo: é um cuidado esmerado para o qual a única saída é aprender a reparar os próprios vícios.
E corrigi-los.
Sempre melhorando.
É com enorme prazer que trago desta vez o Amigo e Escritor dono de escrita respeitada, cujos livros podem ser acessados e adquiridos através da Ed. Devir {duplo fantasia heroica} [p.ex. "O Encontro Fortuito de Gerard van Oost e Oludara"; "A Batalha Temerária Contra o Capelobo"; "O Desconveniente Casamento de Oludara e Arani"], de modo a contribuir um pouco mais ao referido mote.
Com a palavra, o finalista do prêmio Nebula (EUA) de LitFan, categoria Melhor Noveleta
Christopher Kastensmidt
"Acho que, muitas vezes, é mais questão de preguiça que de vício. Por exemplo, por que tantas vezes encontramos as palavras "era" e "estava" quando temos centenas de milhares de verbos na língua que se desenvolveram ao longo do tempo para nos poder escrever com mais exatidão? Como alguém pode escrever “seu rosto estava coberto por um capuz” em vez de “um capuz cobriu seu rosto”, “as sombras do capuz ocultaram seu rosto”, “dois olhos cintilaram por dentro da escuridão do seu capuz”, “as sombras do capuz deixaram visível apenas seu queixo” ou mil outras coisas?
No primeiro rascunho, as palavras "preguiçosas" são comuns. O escritor precisa colocar sua história no papel sem perder o fio do seu pensamento, sem se distrair com palavras individuais. O bom escritor, porém, volta depois para limpar esta bagunça literária, analisando seu texto frase por frase para sempre escolher a palavra certa em vez da palavra fácil."
Para maiores detalhes acerca da obra de Chris (site):
Não podemos, enquanto Escritores/Escritoras, em hipótese alguma sucumbir às "palavras fáceis", aos modelos do linguajar mais repetidos, os "demônios da linguagem" - simplesmente por ser mais cômodo.
Fugir (sempre quando puder) do lugar-comum de expressões usadas em excesso faz do Escritor/Escritora melhor.
Espero que o assunto seja de teu interesse, nobre Leitor {Leitor-Escritor, quiçá}
Abraços
Leon Nunes,
Escritor
P.S.: toda contribuição é válida. Deixe seu comentário abaixo.
Os cuidados com certos vícios são mesmo importantes. Com relação ao exemplo utilizado, eu sugeriria uma forma bem mais simples de resolver a questão do "estava".
ResponderExcluir"seu rosto estava coberto por um capuz".
Mais fácil trocar o "estava" por uma vírgula.
"Seu rosto, coberto por um capuz". Não há necessidade de complicar o que é fácil. A boa escrita é a mais simples, a menos rebuscada.
Obrigado pela resposta, Tibor!
ExcluirE sim - concordo plenamente. A boa escrita ser a mais simples - assim sempre será!
Tu deste outro exemplo bacana para tornar a escrita mais interessante, por consequência mais cativante a leitura da história.
Abração e obrigado pela contribuição
Por que não escrever "o seu rosto estava coberto por um capuz", se, realmente, o personagem estava com o rosto coberto com um capuz? Repito: Por que não? Às vezes, a concisão é inimiga da estética. Por que, obrigatoriamente, frases curtas, concisas, retraídas? Se tal é bom para jornalistas, talvez não o seja para escritores. Muitas vezes é assim mesmo que a frase deve estar: longa, cansativa, arrastada. Tudo depende do clima em que e com o qual se escreve. Um escritor não está na redação de um jornal, onde tudo é medido e comedido. Ao contrário: é na liberdade que a arte se expressa. O escritor só tem dois compromissos: com a beleza - ainda que a beleza do feio, do triste, do terrível - e com a honestidade de sua arte.
ResponderExcluir"Por que não escrever "o seu rosto estava coberto por um capuz", se, realmente, o personagem estava com o rosto coberto com um capuz?"
ExcluirTudo é opinião, mas o texto não é sobre esta frase em si mas sobre vício de linguagem. Não há problema em escrever algo assim vez ou outra, o problema surge quando o escritor se vicia nestes verbos "fáceis":
"Ele estava bêbado. Ele estava mancando. O seu rosto estava coberto por um capuz. Ele tinha olhos azuis."
O texto se torna redundante e passivo, intragável. Textos "ativos". com palavras escolhidas a dedo, dão uma leitura mais agradável.
Concordo plenamente com você. Você disse muito bem. Mas não vejo, propriamente, um 'vício de linguagem'. Vejo, antes, a carência de recursos narrativos. Tal deriva, creio eu, do alheamento à leitura e, muitas vezes, da total ausência de intimidade com os livros e com a língua. Quem quiser escrever - ainda que amadoristicamente, como eu, que não tem em si qualquer pretensão literária além da de entreter os amigos e divulgar, aqui e alhures, o fantástico -, deve, antes de tudo, ler... e ler muito. Insuflado pelo sucesso fácil de alguns, camarada quer posar de escritor sem ter lido, sequer, com a devida atenção, as legenda que se passam no cinema. O problema é que se deu muita pena aos corvos. Sobretudo na Pintura - e, em seu rastilho, como um séquito sombrio, nas demais artes -, em cujos domínios sufocaram-se os naturais talentos, e impuseram-se, a fórceps, à guisa de gênios, verdadeiros embusteiros...
ExcluirUm abração.
Paulo
Muito obrigado pelo comentário.
ResponderExcluirAs opiniões e dicas e ideias (acerca da escrita e que tais) são muito válidas - exatamente porque suscita reações diversas.
Gostei de sua opinião. É uma bela contribuição a sua.
Agradeço por isso. Pelo interesse em ler; em comentar.
Abraços